ALGUMAS INFORMAÇÕES

Em Araruama desde 2003, colaborou como redator nos jornais A VOZ DE ARARUAMA, VERDADE, JORNAL ROTA DO SOL e CONTEÚDO. Escreveu artigos para os jornais HORA CERTA, REVISTA REALCE e JORNAL DA CIDADE, e apresentou na Rádio Mar Aberto, o programa de entrevistas FRENTE A FRENTE. Atualmente escreve para o Carapeba e Correio da Cidadania

segunda-feira, 29 de março de 2010

O RETORNO DA VELHA SENHORA

OS 100 CONTOS DE RÉIS
O táxi levou-a através das tão conhecidas ruas, fazendo com que, milagrosamente, passado e presente se tornassem um só, bem à frente dos seus olhos. Muito pouco havia mudado em cinquenta anos. Agora, a garota que ela foi um dia estava do seu lado, disposta a acompanhá-la nessa viagem tão dolorida. Ela reconheceu, nos olhos assustados, a menina que em segredo namorava o filho do dono da fábrica de tecidos, há tantas vidas atrás. A pequena cidade crescera em volta da imponente fábrica de tecidos, tornando-se parte dela, já que todos os moradores, inclusive seus pais, trabalhavam ali. Eram dias lindos e despreocupados, até que ficou grávida. Aí, tudo mudou, e ela conheceu o medo e a vergonha. Por imposição do pai - o homem mais poderosos da cidade - o rapaz foi estudar na capital. Ela, definitivamente marcada como perdida, e vendo-se como objeto dos gracejos maldosos de toda a cidade, isolou-se em sua casa, tornando-se nervosa e arredia. Tão logo deu à luz um filho, que rapidamente lhe foi tirado dos braços, foi mandada para outra cidade, indo morar com uma tia que sequer conhecia.Surpreendentemente, sua vida começou a mudar ali. Dona de uma beleza que jamais suspeitou, viu abrir-se para ela, nos anos que se seguiram, um mundo de oportunidades que nunca ousou desejar. Um dia, decidiu trocar o emprego de secretária, pela condição de esposa do banqueiro para quem trabalhava. Com a guerra, a economia sofreu um grande revés, obrigando empresas a lançar mão de empréstimos junto aos bancos, para continuarem de portas abertas. Atendendo a um pedido seu, o marido determinou que o banco liberasse créditos para a fábrica de tecidos, hipotecando todos os bens de seu proprietário.

No vencimento da dívida, o banco não renovou a operação, exigindo a imediata quitação da dívida, ou a entrega das propriedades hipotecadas. Com o fechamento da fábrica, a cidade foi morrendo pouco a pouco. E o resultado de tanto ódio, ela, horrorizada, testemunha agora. A pontada de dor no peito, a faz relembrar da sentença do médico. E este passeio pelo passado, com todos os sentimentos que ela vivencia, lhe dá a convicção de que tomou a decisão certa. Usará toda a imensa fortuna que se acumulou no decorrer desses anos, para reabrir a velha fábrica de tecidos. Depois disso, e só depois disso, poderá morrer em paz.

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