ALGUMAS INFORMAÇÕES

Em Araruama desde 2003, colaborou como redator nos jornais A VOZ DE ARARUAMA, VERDADE, JORNAL ROTA DO SOL e CONTEÚDO. Escreveu artigos para os jornais HORA CERTA, REVISTA REALCE e JORNAL DA CIDADE, e apresentou na Rádio Mar Aberto, o programa de entrevistas FRENTE A FRENTE. Atualmente escreve para o Carapeba e Correio da Cidadania

segunda-feira, 29 de março de 2010

SOZINHO

OS 100 CONTOS DE RÉIS
- Solteiro, de novo!

A frase expressando a alegria do momento, apesar de afirmativa, quando ecoa nos cômodos vazios, é devolvida com certo ar de dúvida. Era a minha primeira noite no apartamento, após a separação. Sábado e domingo não contavam, engolidos que foram pelos programas sucessivos, na companhia dos amigos que me restaram, já que até amigos se somam aos itens a serem divididos, quando o casamento termina. Sentado na poltrona que restou, meus pés sentem a falta do confortável acolhimento do monstruoso tapete vermelho. Na dúvida, ficou para ela. Como o quadro absurdamente negro, que ficava ainda mais surrealista sob o foco azulado da luminária. Fora a tevê, a poltrona e a bancada de ferro batido e granito que serve agora de base para o imenso aquário vazio, a sala foi saqueada de tudo que a atravancava. E esta ausência, alguma parte distante de mim registra, é o que mais me incomoda. Sem perceber, enquanto a mente divaga, meus dedos vão dedilhando o controle remoto, zapeando pelos canais, sem me deter em qualquer um deles. Sorrio ao pensar em como isso a enlouquecia. Talvez, a única coisa que a tirava de costumeiro alheamento. Isso e o telefone, no qual ela falava horas seguidas, com toda vivacidade que um dia, num passado por demais distante, me encantou e prendeu. Caminho agora pelos demais cômodos, de repente tão diferentes e frios, sentindo-me intruso em minha própria casa. Abro a geladeira, e uma lasanha de caixa me convida para uma refeição com gosto de papelão e molho de tomate. No aparelho de som, o CD esquecido é o mesmo que ela ouvia, abafando a minha voz que puxava um assunto qualquer, em uma vida passada. Quando o telefone toca, eu corro para ela, desavergonhadamente pronto a começar tudo de novo. Engano. Meu e da moça de voz chorosa, tão ansiosa que teclou errado. Lá fora, a chuva irrompe barulhenta, fazendo escorrer fios caprichosos pela vidraça, como que chorando por mim, as lágrimas que meu peito de homem insiste em ocultar.

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